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Eu prendo e arrebento

 

29/05/2020

 

O nosso amigo mané, em abstinência compulsória, era jovem quando ocorreu o processo de impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, no já longínquo ano de 1992.

Ele lembra que, lá pelas tantas, quando o então presidente caçador de marajás percebeu que o desenlace fatal se aproximava, ele resolveu convocar uma reunião ministerial com o simples intuito de desabafar, de extravasar todo o ódio que sentia por aqueles que conspiravam contra ele.

As testemunhas da época, que participaram do encontro da catarse presidencial, garantem que nunca se sentiram tão constrangidos. O presidente Collor, absolutamente mercurial, achincalhou todos os seus inimigos: o líder do PMDB da época, Ulysses Guimarães, o presidente da Câmara, Ibsen Pinheiro, a turma do PT e, principalmente, o seu irmão Pedro Collor de Mello, o grande pivô daquela crise que culminou com a sua queda.

O jornalista Claudio Humberto, do grupo Bandeirantes de comunicação, deve lembrar bem dessa história, pois da época era o porta-voz da presidência.

Depois desse episódio a crônica política de Brasília nunca mais registrou algo parecido. Até a sexta-feira passada, quando o ministro do STF, Celso de Mello, liberou para o público o famoso vídeo da reunião do presidente Jair com os seus comandados diretos, ocorrida em 22 de abril passado (data aliás que, pela historiografia oficial, o navegante da Coroa Portuguesa, Pedro Álvares Cabral, aportou por essas praias).

Já se falou muito dessa inusitada reunião ministerial, mas por conta desse momento completamente atípico, o assunto parece não querer se esgotar.

Afinal de contas, somente alguém com um espírito gelado do computador HAL, do filme “2001, Uma Odisseia no Espaço”, poderia ficar indiferente, por exemplo, com as intervenções de ministros como Abraham Weintraub, Damares Silva e Ricardo Salles. Cada um deles, a seu modo, evidenciaram uma afinidade notável, tanto no conteúdo quanto na forma, com a doutrina oficial do atual regime. As ações governamentais devem ser implementadas de maneira inconteste. E aqueles de se opõem a elas devem ser considerados inimigos, simples assim, e por isso devem ser tratados como tal. “Eu prendo e arrebento”, como disse certa vez o general Figueiredo, último presidente do ciclo militar.

Afinal de contas, o triunfo da vontade deve prevalecer.

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