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Onde os fracos não têm vez

25/09/2020

 

Há quatro meses, o Brasil parecia um barril de pólvora prestes a explodir.

O ex-juiz Sergio Moro tinha acabado de abandonador o governo, botando a boca no trombone. Manifestações de bolsonaristas mais radicais, pipocavam por todo o país, clamavam por intervenção militar e fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal. E o próprio presidente, com a verve a mil, soltava uma declaração polêmica, dia sim e outro dia também.

Nesse quadro pré-insurreição, uma mensagem de um dos ministros mais respeitados do Supremo, Celso de Mello, fomentou ainda mais aquele clima de polarização absoluta.

Na dita mensagem, que deveria ser circunscrita a poucas pessoas mas que acabou sendo “vazada”, o decano afirmava que o Brasil daqueles dias parecia muito com o regime nazista que traumatizou a humanidade em meados do século passado.

Como termos fortes, o ministro condenava as atitudes daqueles que vociferavam histericamente contra o Estado democrático de direito. Fez menção ao filme “Ovo da Serpente” (clássico de Bergman que retrata a degradação civilizatória da Alemanha durante a República de Weimar), comparou as ações intimidatórias dos sectários com as tentativas do ditador austríaco de conseguir o poder absoluto e finalmente concluiu desse jeito o seu protesto: ““INTERVENÇÃO MILITAR”, como pretendida por bolsonaristas e outras lideranças autocráticas que desprezam a liberdade e odeiam a democracia, NADA MAIS SIGNIFICA, na NOVILÍNGUA bolsonarista, SENÃO A INSTAURAÇÃO , no Brasil, DE UMA DESPREZÍVEL E ABJETA DITADURA MILITAR !!!!”

O tempo passou e a situação política mudou como as nuvens do céu. Algumas cabeças sensatas do Congresso, preocupadas com os efeitos perversos da pandemia sem fim, criaram o auxílio emergencial que, para efeitos práticos, tornou-se um maná para um presidente que via dia a dia o seu apoio popular esvair. E o próprio capitão Jair tomou jeito, ao domar a fera ferida que existe dentro de si, e somente se manifestar nos momentos mais convenientes e oportunos. Como ensina a tradicional cartilha dos bons modos da política de sempre.

Na quinta feira, passada, num evento com produtores rurais no interior do Mato Grosso, o grande Jair, depois de muito tempo, voltou a atacar o isolamento social e falou desse jeito: “Ficar em casa é para os fracos”.

Certamente muita gente sentiu um arrepio na espinha ao escutar essas palavras presidenciais, que fez lembrar a clássica retórica dos regimes fascistas de que, em nome de um Estado forte e absoluto, os fortes devem triunfar e os fracos devem ser liquidados.

A situação, de uma maneira geral se arrefeceu, mas o perigo continua à espreita.

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