Legado do Bolsodoria
22/01/2021
Ao contrário do que os filmes de Hollywood propagandeiam, a 2ª Guerra Mundial foi essencialmente a luta entre dois ditadores sanguinários. A história oficial insiste em dizer que a maior democracia do mundo, os Estados Unidos, e o heroísmo solitário do 1º ministro britânico Winston Churchill, salvaram o mundo da insanidade nazista. Trata-se de uma meia verdade.
Para destruírem o tirano mais bárbaro de toda a história da civilização, Adolf Hitler, os aliados tiveram que recorrer a um déspota não menos sanguinário: o ditador soviético Joseph Stálin.
O que as pessoas menos sabem também é que esses dois líderes autocráticos, no limiar do maior conflito bélico mundial, eram aliados. Através do Pacto Molotov-Ribbentrop, dividiram a Polônia entre si e se comprometeram a não se agredirem mutuamente. Esse pacto obviamente foi quebrado mais tarde quando Hitler ordenou a invasão da Rússia com a Operação Barbarossa.
Guardadas as devidas e óbvias proporções, algo parecido tem ocorrido no Brasil desde as eleições gerais de 2018.
Como se sabe, aqui em São Paulo, a disputa pelo governo, no 2º turno, ficou entre João Doria e Márcio França. O candidato tucano, sabendo que o apoio do Messias (que disputava o segundo turno com o petista Fernando Haddad, em nível nacional) seria fundamental para as suas chances de vitória resolveu criar o binômio “Bolsodoria”. Queria se apresentar assim para o eleitorado paulista como o lídimo representante, por essas praias, da onda renovadora que varria a política do país.
A sua ânsia de colar a sua imagem ao lado mito era tanta que, durante a campanha, ele viajou ao Rio de Janeiro a fim de arrancar uma selfie conjunta. Conseguiu tão somente uma tímida declaração de apoio, escrita com muita má vontade.
No fim ambos venceram os pleitos nos seus respectivos quadrados e a parceria, que parecia ser antes sólida e duradoura, começou a dar sinais de abalo logo no início. Em um evento que reuniu os governadores, Bolsonaro, já presidente, ficou o tempo inteiro fugindo de João Doria, que o perseguia implacavelmente por todo o salão. No fim a persistência valeu a pena e o governador paulista foi fotografado ao lado de um Messias com uma expressão do capeta.
A relação dos dois começou a azedar de vez com a pandemia. Enquanto um embarcava num discurso negacionista típico de líderes populistas como Donaldo Trump, o outro via na crise que se iniciava um oportuno palanque político para se projetar nacionalmente.
Com a questão das vacinas o conflito extrapolou de vez se transformado em um embate fratricida com muitos mortos e feridos pelo caminho.
No domingo passando, João Doria posou ao lado de uma enfermeira que recebeu a primeira dose da Coronavac, que tem uma eficácia de cinquenta e poucos porcento.
Mas isso é detalhe. O importante é aparecer bem na foto.
Vacina russa
No sábado passado, um dia antes de liberar as vacinas da Astra-Zeneca e da Sinovac, a Anvisa não liberou a vacina russa, Sputnik V, comprada pelo governo petista da Bahia. Trata-se da mesma vacina que a Argentina vem imunizando a sua população desde o ano passado.
Tão estanho e sintomático quanto o veto da Agência foi o relativo silêncio da imprensa amiga sobre o episódio.