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Uma inflexão importante

 

19/06/2020

 

O atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), chegou lá em fevereiro de 2019, após uma acirrada disputa eleitoral com o raposíssimo Renan Calheiros (MDB-AL).

Alcolumbre, até então um neófito no meio de tantos barões da chamada “velha” política, teve o apoio de senadores ditos independentes mas, principalmente, do Palácio do Planalto. Assumiu em meio à grande desconfiança, principalmente da oposição.

Nesse um ano e meio de pandemônio que se transformou a Corte central, Alcolumbre, ao lado de Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, tem arduamente fazendo funcionar o sistema de freios e contrapesos, tão caro para o equilíbrio entre os Poderes da República.

Mas ao contrário de Rodrigo Maia, com quem o nosso imprevisível presidente teve homéricas e ranhetas desavenças, públicas e privadas, Davi Alcolumbe sempre teve um canal direto com o Palácio do Planalto.

Por conta disso, o senador sempre avisava de antemão o grande Jair quando iria tomar alguma medida que iria contra os interesses do governo.

Essa regra acabou de ser quebrada com o episódio da “imprecionante” MP que dava poderes ao ministro de Educação de nomear diretamente reitores das Universidades Federais. A medida exalava absurdetes por todos os lados. Além de ser claramente inconstitucional a MP dos reitores biônicos (como foi apelidada pela senadora Simone Tebez) sinalizava um sinal de prestígio, por parte do presidente, a um dos seus ministros mais polêmicos de sua trupe (uma grande façanha, diga-se por sinal). O sr. Weintraub, como o nosso abstêmico amigo mané sabe, foi aquele que classificou os ministros do STF de incuráveis acomodados (só para ficarmos em termos mais suaves).

Para a surpresa de não pouca gente, Alcolumbre simplesmente devolveu a MP ao Planalto, ou seja, rejeitou a proposta do Executivo. E mais do que isso: não telefonou antes ao grande irmão, que ficou sabendo da negativa do Senado pelas vias protocolares e oficiais.

Foi o presidente da República quem ligou para o presidente do Senado. Segundo o que apuraram os jornalistas que ficam de plantão na Corte a conversa entre os dois políticos foi “amena”. E no final das contas Jair revogou a MP, sem maiores estresses.

Mas sem dúvida, esse episódio encerra uma importante inflexão nos bastidores desse dramático drama político que assola o país atualmente. Vale acompanhar.

Para os meros mortais só resta imaginar o que aconteceu no Palácio da Alvorada no período entre o momento em que o nosso mercurial presidente tomou conhecimento dessa negativa e a hora em ele resolveu ligar para o seu colega do outro lado da Esplanada dos Ministérios.

É uma pena que as paredes de Brasília não falem.

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