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Bonapartismo à brasileira

 

17/04/2020

 

Enquanto o agora ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e a sua equipe faziam um esforço hercúleo para combater a pandemia do covid-19, o grande Jair continuava na sua cruzada anti-isolamento social dia sim, outro dia também.

Com uma desenvoltura impressionante, o presidente tinha adotado um novo “passatempo”: passear, nos finais de semana, pelas ruas das chamadas cidades satélites do Distrito Federal, tendo um contato direto com o “povão”. Os moradores dessas cidades, logicamente extasiados com um evento tão impressionante quanto inesperado, afluia freneticamente na figura do grande irmão, provocando grandes, e preocupantes, aglomerações.

Aqui se abre parênteses para explicar para o nosso amigo botequeiro (aliás, muito a contragosto, longe dos pubs das esquinas deste país afora) o que são essas cidades satélites em torno de Brasília.

A grandiosa obra urbanística do presidente Juscelino Kubitscheck foi erigida graças à mão-de-obra vinda do Nordeste (apelidada de candangos). No final dos trabalhos resolveu-se estabelecer um cordão periférico para abrigar esses operários que não tinham mais condições de voltar à sua terra natal.

As cidades satélites estão para a Capital Federal assim como as cidades circunvizinhas das grandes cidades brasileiras, como São Paulo. Afinal a utopia kubitscheckiana do plano piloto só era reservado para alguns privilegiados.

Pois bem, voltando ao século XXI, eis que o atual presidente brasileiro redescobre essas cidades candangos e faz destes locais o palco de suas perfomances populistas.

Também não há nenhuma novidade nisso. Mais isolado politicamente do que nunca, o presidente Jair procura avidamente uma conexão diretamente com as classes populares (o chamado lumpen-proletariado, para usar um termo marxiano). É o que os cientistas políticos e sociólogos chamam de bonapartismo, ou seja, uma estratégia clássica de governantes autoritários que, em momentos de crise de autoridade, atropelam as instituições mediadoras, e fazem um apelo direto às massas para recompor o seu antigo status quo.

É uma tentativa ao mesmo tempo desesperada e perigosa já que em outros momentos da História provocou consequências desastrosas.

Os outros Poderes, mais do nunca, devem ficar atentos.

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