Síndrome de Homer Simpson
15/05/2020
Já se comentou neste espaço que o Brasil vive uma espécie de síndrome de Homer Simpson.
Só para relembrar o mané, ex-botequeiro da esquina, o pai de Lisa e Bart é tão tosco e jeca que é incapaz de aprender com os seus próprios erros, condenado assim a cometer lambanças ad eternum. Em um certo episódio da série animada Homer, em um momento de pura sinceridade, desabafa para a filha: “Lisa, eu não posso mudar o futuro”.
Pois é, no Brasil recente, há episódios que reforçam essa tese. As tragédias das cidades mineiras Mariana e Brumadinho só têm paralelo com a dupla tragédia atômica das cidades japonesas Hiroshima e Nasakagui, que selou o fim da 2ª Guerra Mundial.
Em fevereiro de 2019, no Rio de Janeiro, um absurdo incêndio nos alojamentos do Flamengo, improvisado com contêiners, matou dez jovens atletas. A causa do incêndio foi um curto-circuito em um ar condicionado. Sete meses depois, um Hospital particular no bairro da Tijuca, zona norte do Rio, pegou fogo deixando 11 mortos. A maioria eram pacientes idosos em UTI. A causa? Curto circuito também.
E aliás, no sábado passado, houve um princípio de incêndio no hospital de campanha construído no estádio do Maracanã. Mais uma vez foi um problema elétrico.
E o que dizer da atual pandemia que nos assola? Chegamos ao número de 10.000 mortos nos colocando assim em um nada honroso 6º lugar dos países mais afetados pelo bichinho do mal.
Quem acompanhava, meses atrás, as entrevistas coletivas do então ministro da Saúde, dr. Mandetta, sempre ao final das tardes, têm agora uma incômoda sensação de déjà-vu.
O médico que teve a ousadia de eclipsar o seu próprio chefe narrava diariamente um sombrio script de previsões que vem agora se concretizando “ipsis litteris” pela realidade. Pessoas sendo contaminadas em escala geométrica, pacientes esperando horas a fio por um atendimento nos postos de saúde (a despeitos dos profissionais da área trabalharem freneticamente) ou esperando a ambulância do SAMU, a falta crônica de máscaras, de respiradores, de leitos, de vagas na UTI e até de covas nos cemitérios. E, enfim, ante a ameaça do colapso total do sistema, os governantes obrigados a tomar a medida extrema do lockdown. Tudo isso já vivenciado, antes, na China e em vários países da Europa.
Não conseguimos mais uma vez superar a nossa própria impotência de Macunaíma.
Mas e daí?
Liberalismo em vertigem
Em um nível de stress que só aumenta a cada dia que passa, o ministro Paulo Guedes, o postoipiranga, vez ou outra, solta umas daquelas que chegam até se comparar com os impropérios do todo do poderoso. Foi assim, quando em reveladores atos falhos, criticou as empregadas domésticas que tinham a ousadia de viajar para a Disneylândia e os funcionários públicos que ousam ter a geladeira cheia no isolamento social.
No sábado passado, em uma teleconferência, ele deixou escapar mais uma vez um daqueles desabafos que ficam guardados a sete chaves no inconsciente. Criticando a concentração do sistema bancário ele disse “200 milhões de trouxas são explorados por seis bancos. No encontro virtual estava presente o CEO do banco Itaú, Candido Bracher.
Após o deslize ele tentou se justificar. Mas nem precisava.
Foi um golaço.