A pandemia das fakenews
14/08/2020
Um desses clássicos literários que ficam vez mais atuais a cada dia que passa, a novela dispótica “1984”, do inglês George Orwell, retrata um futuro sombrio onde o mundo é controlado por governos ditatoriais e autoritários.
Subvertendo as atribuições básicas do Estado, que deve garantir o bem estar social para todos os cidadãos de uma sociedade, esses governos perversos se apossam das engrenagens do poder e criam uma grande teia de controle e vigilância que tem como grande símbolo o “Grande Irmão”, um espécie de líder carismático que ninguém sabe ao certo se realmente existe, mas que todos sabem que devem obedecer cegamente.
Para manter toda a população submissa e controlada, esse grande sistema, ao mesmo tempo invisível e onipresente, se assenta em quatro grandes ministérios: o da Paz (que cuida da guerra), o da Fartura (que administra a escassez perene), o do Amor (que controla o comportamento das pessoas disseminando o ódio) e, finalmente, o da Verdade (que, sistematicamente, deturpa, distorce e corrompe a realidade divulgando informações e notícias falsas).
Há duas semanas o youtuber Felipe Neto foi entrevistado pelo canal de notícia Globonews. O mané botequeiro, que é um cidadão ainda um tanto analógico, não deve ter muita ideia de quem ele seja. Trata-se de um desses jovens talentos que surgem nestes tempos modernos e que usam as novas plataformas tecnológicas para divulgar as suas ideias e opiniões. Muito bem articulado e inteligente Felipe Neto conquistou uma legião de fãs (ou seguidores). Mas por conta de suas opiniões firmes e contundentes atraiu também inúmeros detratores.
Na referida entrevista a Globonews o youtuber denunciou o estado de coisas em que chegou esse país por conta da disseminação descontrolada de fakenews. Tal qual um vírus letal, as fakenews invade todos os lares brasileiros e vem contaminando a percepção da realidade de muitas pessoas, algumas até insuspeitas, que têm presumivelmente um razoável discernimento das coisas. Trata-se de uma verdadeira pandemia, tão maléfica quanto a do bichinho do mal.
No final do ano passado, a deputada Joyce Hasselman (PSL-SP) rompeu com os Bolsonaros e, em retaliação, veio à público denunciar a existência de algo que muitos já desconfiavam de sua existência: “gabinete do ódio”, uma espécie de bureau instalado nas entranhas do novo poder e que tem como função básicas criar inverdades e disseminá-las por toda a rede social. Diga-se de passagem, um esquema muito estruturado, articulado e profissional.
1984 é aqui e agora.