A crise chegou ao andar de cima
02/04/2021
Poucas coisas efetivamente abalam o presidente mito.
80% do mundo pode estar contra, mas ele não perde o sono (aliás nem isso tem muito já que é acometido por crises crônicas de insônia). Intelectuais, artistas, pessoas “sérias” podem gritar, espernear e bater panelas que ele nem taí.
Mas na semana passada uma sensação de quase pânico tomou conta do ambiente do Palácio do Planalto.
De maneira até que discreta, um grupo de economista divulgou uma carta aberta condenando abertamente (desculpe a redundância dos termos) as ações (ou desações) do governo federal na pandemia que completou um ano de vida (e de milhares de mortes).
Mas a carta não tinha somente a adesão de economistas, como se pensou inicialmente. Havia também signatários como banqueiros, empresários e ex-autoridades do setor público. Mais precisamente a final flor do andar de cima da sociedade brasileira. A casta dos “faria limers” resolveu botar a boca no trombone.
Dentre outras coisas e com todas as letras, esse manifesto da elite declarou o que muita gente já berrava há muito tempo: é falso o dilema entre a proteção à vida e a prioridade ao trabalho, que é a cerne do discurso bolsonarista e que sempre é usado como justificativa para repudiar o isolamento social e até mesmo o lockdown como medidas para combater a disseminação da doença.
Como sabe o velho mané, proscrito sabe lá até quando dos bares da vida, desde o início da tragédia o nosso presidente vem repetindo, feito um mantra, de que não se pode obrigar o cidadão a ficar em casa e não poder ir trabalhar para ganhar o sustento do dia.
Com uma visão binária das coisas, o presidente sempre foi incapaz de perceber os diversos tons de cinza da completa realidade brasileira.
O manifesto dos bacanas acaba de desmentir todos os dogmas do discurso oficial no que se refere à política sanitária mais adequada nesse momento de colapso total de tudo.
Entre a turrice bruta da nossa excelência e o mal-estar dos endinheirados está aquele grupo político chamado Centrão. Mais do que o próprio presidente, os barões da política de sempre perceberam estamos chegando na iminência da iminência das coisas.
Ainda tentam a todo custo manter ainda navegável uma nau acossada numa imensa tormenta de desmandos e mortes. Mas já começam a colocar os coletes salva-vidas para um possível desembarque de salvem-se que puder.